sexta-feira, 28 de abril de 2006

Urgência ...

Preciso admitir que o esforço para manutenção deste espaço se transformou desde sua criação, no que diz respeito às próprias divagações que lhe deram nome - tanto pela diversidade de temas que me inquietam quanto pela necessidade de expressá-los de forma clara e não-ofensiva. A impressão é que diversas idéias surgem praticamente ao mesmo tempo, com uma urgência que eu não conhecia.

O que começou em tom de desabafo tem constituído um processo de revisão de valores e posicionamentos ... só tenho a agradecer aos amigos que freqüentam este espaço a me dão a honra e o incentivo de dispor de alguns minutos de seu tempo.

quarta-feira, 19 de abril de 2006

E por falar em infância ...

Relendo o post anterior, comecei a lembrar de hábitos que adquiri ainda quando piá, como o gosto por leitura - mesmo que fossem gibis. Lembro que eu sabia os dias certos do mês pra chegada nas bancas – ou melhor, no Bazar Peninha – de cada um deles.
Um dos personagens que me fascinou desde o primeiro contato foi o Surfista Prateado - apesar de eu não ter consciência das questões filosóficas que o afligiam. Seu dilema gravitava em torno da escolha que fez com que ele se visse afastado definitivamente das coisas que mais amava e que trouxe como resultado a convivência com um ambiente totalmente avesso aos seus valores. Eram minhas primeiras lições de Ética ...
O cara dizia:
“Eu não conheço o propósito do destino humano. Não sei por que razão existo no grande esquema místico das coisas, mas de uma coisa estou certo agora e sempre: enquanto houver vida em meu corpo, enquanto o sangue fluir por minhas veias, eu farei o que meu coração e consciência ditarem ... jamais causarei mal a outro ser e vou agir com todos como gostaria que agissem comigo. Se tais atos me causarem tristeza, então com orgulho suportarei tal fardo, seguro de saber que fiz o melhor. Homem algum pode fazer mais.”

segunda-feira, 17 de abril de 2006

Nostalgia de Páscoa

Acordei cedo. Junto com o friozinho, o domingo me trouxe nostalgia. Não aquela das coisas que não voltam mais. Uma outra, de um tempo que não vivi. Enquanto tomava meu mate, sozinho e em silêncio, pensei em como poderiam ter sido os últimos vinte anos junto a um casal cuja companhia já não posso ter.
Ela, não vejo desde dezembro de 1985. Ele, desde o Natal de 1995. Nunca esqueci os olhares, os puxões de orelha e algumas cenas que vivemos juntos. Aos quatro anos, ela me ensinando a ler e escrever... Aos cinco anos, ele me ensinando a andar de bicicleta no pátio da casa que ainda moro... Nos momentos mais difíceis senti suas presenças e nunca duvidei que, de alguma forma, olhavam por mim. Nos bons momentos - como os atuais - foram os primeiros a quem, em pensamento, agradeci orientações e conselhos. Percebo que herdei - ou adquiri por osmose - e hoje carrego comigo muitas das manias que tantas vezes critiquei.
O fato é que poucas vezes desejei tão profundamente como nesse domingo tê-los comigo - por minutos que fossem - para um abraço apertado, sem maiores comentários. E acreditem: não há tristeza nenhuma nisso. Há, quando muito, a expectativa não satisfeita de uma alegria. Mas a vida é assim ...
Na adolescência, sempre me enchia de alegria ser chamado pelo nome ao invés de ser referido como "o filho do fulano" - penso que deveria ser questão de afirmação de identidade, característica daquela fase. Hoje em dia, adulto e sem ouvir essa "descrição de linhagem" há muito tempo, sinto essa saudade de um tempo não vivido. Em outras ocasiões, pretendo falar mais sobre essas figuras...
Nesse meio-tempo, vou me apresentando: sou o filho mais velho do Nei e da Regina!

terça-feira, 11 de abril de 2006

O Tempero da Vida

Retomei ontem um hábito de consumo que estava relegado a um segundo plano há mais de seis meses: os filmes. Putz, foi tanto tempo que a locadora mudou de endereço e eu nem sabia!

Por recomendação de uma amiga, meu objetivo era assistir a “O Tempero da Vida”, sem nenhuma pretensão além de que fosse um bom passatempo. Fui surpreendido pelas memórias de Fanis, um professor com dotes culinários que, quando menino, teve em seu avô um grande mestre na arte do uso dos temperos - e nas inevitáveis metáforas acerca da vida, que assim como a comida precisa de sal e pimenta pra ter gosto.

Separados no final dos anos cinqüenta em razão do conflito político entre gregos e turcos, o jovem cresce na expectativa de rever o avô e sua namoradinha de infância. Aos quarenta anos, uma viagem de retorno à Grécia coloca-o diante da possibilidade de, finalmente, reencontrá-los.

Mas qualquer tentativa de descrição suscinta tornará pobre o conteúdo do filme.
“O Tempero da Vida” merece ser visto. Ou melhor, digerido.

segunda-feira, 10 de abril de 2006

Deu a lógica: o trilocor é Campeão Gaúcho ...

No mais das vezes, tenho procurado abordar aqui temas mais formais. Nunca tive como objetivo utilizar este espaço como veículo de afrontas pessoais - e pretendo que isso continue exatamente dessa maneira. Até não penso que futebol seja assunto fútil, mas a paixão que o circunda tende a criar rivalidades tanto agudas quanto desnecessárias.

Agora, com o perdão dos meus amigos colorados ... o título deste post diz tudo! Ouvi torcedores do Internacional dizendo: "que coisa mais sem graça ganhar um campeonato sem ganhar o jogo". Digo-lhes o seguinte: "Pior ainda é perder o título sem ter perdido o jogo ..."

Apenas pra que não me recriminem individualmente, transcrevo uma crônica do Juremir Machado da Silva, publicada no Correio do Povo em 30/11/2005. Tratam-se de palavras de um colorado, portanto:

MILAGRES E ESTILOS

O Internacional é um time de pobres. Nós. Nunca terá convicções de gremista. São duas visões de mundo. O Grêmio é a cara do Rio Grande: arrogante, fanfarrão, pachola, varzeano e, por isso mesmo, capaz de se impor e de vencer em qualquer situação. O Inter, como qualquer pobre de caricatura, está sempre meio envergonhado, vai logo dizendo, 'desculpe qualquer coisa', intimida-se com facilidade. Na casa dos ricos, tem medo de sujar o sofá. Como todo pobre complexado, quer jogar bonito, ganhar com elegância, mostrar boas maneiras. O Grêmio, como rico prepotente e seguro de si, não está nem aí para os bons modos: quer é resultado, a qualquer preço.

Ao ser roubado, contra o Corinthians, Tinga já levantou se explicando. O Inter discutiu durante três minutos e acatou a decisão do árbitro. Já em Recife, os jogadores do Grêmio peitaram e chutaram o juiz, criaram um clima terrível, condicionaram tudo e levaram varzeanamente o resultado. O pênalti deveria ter sido batido novamente, pois o goleiro gremista se adiantou. Mas o juiz já estava apavorado, louco para expulsar alguém do Náutico e se ajoelhar diante dos gremistas. Acho que Anderson cobrou a falta para ele mesmo na hora do seu gol impossível. Que importa? O Grêmio já tinha vencido a batalha da 'catimba'.

Existe um inconsciente esportivo. Quando o jogador chega ao Olímpico, assimila um passado de rico dono do mundo, de quem inventa o próprio marketing e o transforma em verdade. No Beira-Rio, o atleta vira um sonhador. O Inter, quando ganha, faz obra-prima, como em 1975 e 1976, ou algo inédito, como o campeonato invicto de 1979. Mas isso é raro e fora de moda, do 'tempo em que se amarrava cachorro com lingüiça', como diria o filósofo Felipão. O Grêmio é um investidor neoliberal que não se preocupa com estética e, se compra quadro, é pelo valor de mercado.

Não falo de ser rico, mas de ter uma atitude de dominação e de mando. Paradoxalmente, castilhismo, gremismo e petismo representam esse espírito de arrogância tipicamente gaúcho. Maragatos, colorados e excluídos encarnam esse idealismo romântico e estetizante dos pobres ou ricos com sensibilidade poética. Como houve milagre em Recife, o Inter não poderá ser beneficiado pelos céus no próximo domingo. Ou Deus será acusado de beneficiar os gaúchos e poderá ser chamado a depor numa CPI sob suspeita de 'mensalão'. Além disso, só o Grêmio é imortal.

terça-feira, 4 de abril de 2006

Coelho da Páscoa: canibal ou chocólatra?

Há cerca de seis meses, comentei sobre a federalização da Universidade da Região da Campanha e admiti que, apesar de não acreditar que fosse possível aquela propalada maravilha - que de fato não houve, esperava que o movimento pelo ensino superior público na fronteira tomasse ares de metáfora transformadora, não obstante a politicagem explícita. Houve quem concordasse em parte com minhas considerações, quem discordasse completamente e quem calmamente afirmasse que minhas conclusões eram equivocadas. Mas esse era o risco, afinal de contas.
Quem me conhece sabe que tenho propensão a crer tão somente no que vejo. Não admito com isso ceticismo, apenas cautela. Penso que por "vício de profissão" busco apreender o contexto ao invés de analisar os fatos isoladamente. Trago comigo - desde as aulas de Teoria Geral da Administração ministradas pelo Sérgio Bertelli no saudoso Centro Integrado de Ensino Superior de Alegrete - que a "dúvida sistemática" é um princípio válido para toda a vida, em todas as situações. Não há nada de errado em alguém buscar mais informações antes de se dar por convencido sobre algo.
Confesso que até hoje tenho dificuldade para acreditar na real existência de centenas de bolsas de estudo divulgadas desde aquela época, as quais beneficiariam inclusive acadêmicos dos cursos em andamento. Aliás, de todas as falácias daqueles dias de palanques e passeatas, o que mais se aproxima da realidade é a bolsa pedida pelo Luís Fernando ao próprio presidente Lula, num dos eventos havidos em Bagé em prol da federalização. Diga-se que depois de ter ido a Brasília - e voltado orgulhosamente de carona num avião da Força Aérea - o acadêmico não trouxe nada mais consistente que algumas fotos ao lado do mandatário maior da república e uns tapinhas nas costas seguidos da promessa de "vamos dar um jeito". Pena que pouca gente saiba que esse rapaz já havia sido "agraciado" com créditos educativos e, mesmo assim, possuía débitos junto à URCAMP. Fotos e manchetes foram publicadas, mas de solução não se tem notícias. Em português fluente: o "Cromado" tá famoso, mas continua com um abacaxi na mão...
E por falar nessa fruta, corre um boato no meio acadêmico sobre uma "discrepância contábil" na ordem de algumas dezenas de milhares de reais num campus da fronteira. Tenho certeza que, no fim das contas, não terá passado de um mal-entendido. Quando muito, alguém apontará "erro humano" - nada mais natural, segundo o provérbio - e tudo voltará a ser como antes.
Mas - como diz o gaúcho - "voltando à vaca fria" ... alguém ponderou sobre a demanda pros tais cursos de extensão da UFSM? Da forma como está apresentada, será que a UNIPAMPA é viável? Há possibilidade, ainda que remota, de aplicação de recursos em pesquisa e desenvolvimento no sentido trazer progresso à fronteira?
Que me desculpem os mais crédulos, mas ainda estão ocorrendo manobras. Há tempo pra que não deixemos que nossas esperanças sejam usadas contra nós.
Ah, mais uma coisa: a metáfora do Coelho da Páscoa está se autofagocitando ou comendo os próprios ovos de chocolate?