quarta-feira, 28 de junho de 2006

Licença Poética

Tenho tentado, há bastante tempo, encontrar a forma certa pra exprimir idéias recorrentes. Acredito que, no final das contas, não há palavras originais.

Por mais que se tente dar ares genuínos a pensamentos, filosofias e angústias, certamente alguém já passou por isso. E provavelmente já externou.

Assim, nasce hoje o Prosa e Verso, um novo blog, pra ocasiões em que palavras de outrem possam dizer o que eu não consigo.

As "divagações" continuarão. Com sua superficialidade abissal. Com sua (in)coerência de sempre. Com sua constância eventual. Ou não.

segunda-feira, 19 de junho de 2006

Compreensão tacanha, diálogo inexistente

Não tenho certeza se por ironia, limitação de pensamento ou pragmatismo (ou, quem sabe, pelo amálgama de ambos), costumo comentar alguns assuntos de forma pouco apaixonada. Talvez o pecado maior aos olhos de interlocutores desavisados nem seja esta visão mais "fria". Começo a crer que o simples fato de comentar é que às vezes incomoda.

Talvez soe pretensioso, mas entendo cômica – se não trágica – essa tendência de "matar o mensageiro" quando se aborda um tema do qual não se quer ouvir ou uma posição da qual se discorda. Ou o que é pior: quando se percebe que opiniões foram baseadas em adesão e não em pensamentos. Tão mais fácil seria ignorar. Quem não concorda, critique. Dê opinião. Contraponha. Regra primária da civilização e do diálogo.

Em diversas ocasiões esclareci que este espaço é apenas uma válvula de escape pra divagações e que não me atraem as ofensas a quem quer que seja. Sempre tomei cuidado para manter essa linha. Procuro, aqui, mais do que mil visitantes em pouco mais de três meses. Procuro interlocutores, para assuntos sérios ou não. Virtuais ou não. Lógicos ou não. Ponto.

Lembro da Canção Excêntrica, da Cecília Meirelles:

Ando à procura de espaço
para o desenho da vida.
Em números me embaraço
e perco sempre a medida.

Se penso encontrar saída,
em vez de abrir um compasso,
protejo-me num abraço
e gero uma despedida.

Se volto sobre meu passo,
é distância perdida.
Meu coração, coisa de aço,
começa a achar um cansaço
esta procura de espaço
para o desenho da vida.

segunda-feira, 12 de junho de 2006

Anúncio (des)classificado

Desde sexta-feira, tenho ruminado uma idéia ... por todos os lugares que passei haviam casaizinhos de mãos dadas, num clima de "love is in the air". Pudera ... um frio danado às vésperas de dia dos namorados! Em uma tentativa patética de descrever - como se fosse possível - a companhia ideal, lembrei de uma música do Juca Chaves, chamada "A Cúmplice":

Eu quero uma mulher
que seja diferente
de todas que eu já tive,
todas tão iguais...
Que seja minha amiga,
amante e confidente;
a cúmplice de tudo
que eu fizer a mais.

No corpo tenha o Sol
no coração a Lua
a pele cor de sonho
as formas de maçãs...
A fina transparência,
uma elegância nua;
o mágico fascínio,
o cheiro das manhãs.

Eu quero uma mulher
de coloridos modos,
que morda os lábios sempre
que for me abraçar...
Que seu falar provoque
o silenciar de todos
e seu silêncio obrigue-me
a fazer sonhar.

Que saiba receber,
que saiba ser bem-vinda;
que possa dar jeitinho
em tudo que fizer...
E que ao sorrir provoque
uma covinha linda;
de dia, uma menina de noite, uma mulher.

sexta-feira, 9 de junho de 2006

A província em evidência

Mais uma vez, minha terra natal é objeto de manchetes. E, para não variar, quando não são tragédias, são falcatruas. Ontem à tarde o Ministério Público noticiou que apresentou denúncia por formação de quadrilha, estelionato e lavagem de dinheiro, requerendo prisões preventivas e seqüestro de bens de pessoas envolvidas com desvio de valores na Urcamp.

Tenho acompanhado as manifestações de acadêmicos, inclusive no Orkut, pela apuração dos fatos. Apesar de alguns exageros casuais – compreensíveis, dada a gravidade da situação – e a clássica alienação de uns tantos, a densidade que o movimento adquiriu é interessante. O que me soa irônico é que nem se passaram doze meses desde que centenas de jovens foram às ruas para clamar pela tal "federalização" da Urcamp. Nas últimas semanas, o clamor vinha sendo por "providências".

Já afirmei neste blog que não me atraem as ofensas pessoais. Os envolvidos neste caso, independentemente de suas identidades, já estão usufruindo de todo o escárnio do qual são (in)dignos. Nada mais há a comentar sobre isto. O que tem consumido meu tempo em divagações é a possibilidade, aparentemente não percebida, de propor uma discussão sobre a relação de consumo que existe entre os acadêmicos e a Urcamp. Não é nenhuma novidade que o custo-benefício não é dos mais favoráveis ao educando. Também não é nova a informação que o índice de inadimplência é inferior à média estadual. Isso, sem se falar nos preços!

Lembro que nos "meus tempos de acadêmico" (início da década de noventa), era bastante difícil tratar esse tipo de assunto porque os Diretórios Acadêmicos possuíam poucos associados, o que sugeria que sua representatividade era menos expressiva. Atualmente, há uma efervescência capaz de legitimar representantes estudantis - e mesmo dos professores e funcionários - a bater na mesa e "discutir a relação" com a universidade.

Ouso imaginar que, nessa ocasião, a província novamente estaria em manchetes de Zero Hora ou Correio do Povo (e, lógico, na Gazeta, no Em Questão e no Diário de Alegrete) ... só que por motivos não-pejorativos.