terça-feira, 29 de maio de 2007

Oxímoro

Com o frio e as noites insones, duas surpreendentes constatações:

A primeira: eu, que não raro me vi pleonasmo, ora me vejo oxímoro ... uma contradição em mim mesmo, não tão bem justificada ou empregável quanto a figura de linguagem ...

A segunda: meu tempo, tal qual o de Vinícius, tem sido "quando" ...

Mudanças a vista (e a prazo) na paisagem, como sugere o Outuno ...

domingo, 27 de maio de 2007

A Palavra Perfeita

Perdi a conta das vezes que, alegre ou triste, passei a madrugada procurando as palavras certas para explicar o que pensava ou sentia. Aquelas que não só descrevessem, mas levassem em si a essência do seu objeto. Pois tantas vezes quanto tentei foram as vezes em que não consegui. Acabava racionalizando demais, medindo além da conta os termos que pretendia usar. Não gosto do texto medido, estudado, moldado. Penso que deva ter algo de visceral, como se fosse vomitado num momento de enjôo. Se não for assim, perde a espontaneidade, o "sopro de vida" que o traz à luz.

Heidegger, a propósito, foi genial na colocação: “a busca do ser humano é uma procura incessante pela palavra-mestra”.

Talvez, na correria do dia-a-dia, muitos nem percebam a importância desta busca e a sua real motivação. Mas é necessário admitir que, no fim das contas, tudo o que se faz – do mais insignificante gesto à mais elaborada conclusão – é uma tentativa de estabelecer contato, de comunicar ao mundo que existimos e precisamos ser compreendidos. Em essência, não nos basta existir. “Penso, logo existo” acaba virando balela, dando espaço para algo como: “Comunico, logo existo”. Ou ainda: “Sou compreendido, logo existo”.

Entendo hoje, com clareza, que o próprio nascimento deste blog se deu por este motivo – por vezes assuntos sérios, por vezes assuntos mais banais – mas sempre um grito buscando comunicação, compreensão, um eco qualquer ...

Gosto da ilustração da “hora do travesseiro”: por maior que seja o número de amigos, por maior que seja a cumplicidade com a eventual cara-metade, por maior que seja a fé ... na hora de dormir – ali, naqueles minutos que antecedem o sono – é que percebemos que estamos irremediavelmente sozinhos. Só nós mesmos sabemos o que se passa em nossos corações e mentes, qual a alegria que nos excita ou qual a angústia que nos corrói ...

Mas voltando às tais palavras, que nunca (até agora) havia encontrado ... talvez, um dia, eu consiga cometer uma maravilha como este texto do Washington Araújo ...

Ironia

Conversando com um amigo sobre estórias e histórias de vida, concordamos com o seguinte: por mais que seja atraente lembrar e comentar as "ganhas", na verdade as "perdidas" são as que têm mais graça e que mais ensinam ...
Entretanto, revendo o placar com cuidado, posso notar que poucas são as primeiras ... e inúmeras as segundas. Não tenho nada contra aprender - como dizia meu pai, "saber não ocupa espaço" - mas gostaria de equilibrar um pouco os números ...

Sem entrar em divagações filosóficas, admito ser razoável a idéia de que a vida é injusta, mas bem que podia pender pro meu lado, de vez em quando ...

terça-feira, 22 de maio de 2007

Perguntas simples

Quem convive comigo há mais tempo sabe da minha fascinação por propaganda. Tenho verdadeira paixão por campanhas publicitárias bem feitas, que vão além do banal “vender o peixe”. Aquelas que conseguem verdadeiramente deixar saudade, além e apesar do produto anunciado, baseando-se na simplicidade de sua apresentação. Tenho comentado a aparente “volta à normalidade” no universo marciano, condição em que observo beleza nas coisas simples. Talvez por ter conseguido arrumar mais tempo para reler alguns livros (grande Rubem Alves) e até enviar (ok ... às vezes apenas encaminho) mensagens a amigos, percebo o resgate do contato com figuras saudosas e impagáveis, que já participaram da minha história e das quais sinto falta do convívio mais freqüente.
Assistindo ao comercial do grupo Pão de Açúcar, fiquei admirado com o texto recitado pelo Arnaldo Antunes - adaptação de um poema dele próprio - onde perguntas levam o espectador a pensar:

A lua, a praia, o mar
A rua, a saia, amar…
Um doce, uma dança, um beijo
Ou é a goiabada com queijo?

Afinal, o que faz você feliz?

Chocolate, paixão, dormir cedo, acordar tarde,
Arroz com feijão, matar a saudade…
O aumento, a casa, o carro que você sempre quis
Ou são os sonhos que te fazem feliz?

Um filme, um dia, uma semana,
Um bem, um biquíni, a grama…
Dormir na rede, matar a sede, ler…
Ou viver um romance?

O que faz você feliz?

Um lápis, uma letra, uma conversa boa
Um cafuné, café com leite, rir à toa,
Um pássaro, ser dono do seu nariz…
Ou será um choro que te faz feliz?

A causa, a pausa, o sorvete,
Sentir o vento, esquecer o tempo
O sal, o sol, um som
O ar, a pessoa ou o lugar?

Agora me diz:
O que faz você feliz?

Constatação: minhas maiores alegrias e saudades carregam consigo (pior: são constituídas de) coisas simples, tão somente ...

domingo, 20 de maio de 2007

Sintomática


É ... o maio na província tem se mantido surpreendentemente frio ... nada intolerável, apenas o suficiente pra alterar rotinas e vontades.

Entre uma e outra das tarefas domésticas que enchem o saco de qualquer solteiro que trabalha fora e somente tem livres os finais de semana para por as coisas em ordem, não consegui evitar a análise da simbologia de arrumar gavetas, tirar o pó dos livros e móveis e retomar o gosto por estar em casa ...

Sempre achei interessante a ilustração do outono como um final de ciclo, um fim necessário à renovação, algo assim como a morte da fênix ... talvez esses processos de reorganização da vida também o sejam ...

Há gente nova chegando ao cotidiano marciano, novos assuntos e interesses ... Mais do que isso, renovam-se expectativas - menos nos outros, mais em mim mesmo.

Talvez as coisas finalmente estejam retornando ao ritmo normal ... não o normal(mente) imposto pelas situações, mas o que eu consigo absorver, admirar e, principalmente, aproveitar ... sem complicações.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Pois é ...

Paixões à parte – na medida do possível – o imortal tricolor gaúcho disse mais uma vez (!!!!) ao que veio, para tristeza e desconsolo dos colorados de plantão, eternos secadores. Mandamos o timeco paulista pra casa, vencendo e convencendo – apesar da inegável mania gremista de complicar as coisas e deixar nervos em frangalhos até os últimos momentos de cada partida.

Tive a oportunidade de assistir ao jogo na casa do Neto e da Carla, com direito a janta, vinho e torcida organizada, com bandeiras e até uma sessão da "Batalha dos Aflitos"! Admito que já não lembrava da alegria de viver momentos assim. Meus queridos amigos, aqui fica o meu público agradecimento e o compromisso: em duas semanas, a reunião será lá em casa! Por motivos alheios à minha vontade, desta vez (de novo!) não tive a companhia daquela morena que me fascina – mas, no fim das contas, azar o dela! O encanto, assim como minha paciência, não é tão grande assim.

Voltemos ao confronto futebolístico: éramos cinco gremistas na sala, aos gritos: Neto, Buba, Diego, Ganso e eu – cada um dos três primeiros acompanhados de sua respectiva cara-metade (aliás, gurias, nota dez pela paciência – e pelo cardápio – de vocês!). Noventa e quatro minutos de suspense e torcida, confirmou-se o que pra nós era um fato desde o início: o Grêmio segue na Libertadores!! Que venha o Defensor...