“A gente não precisa sair do lugar pra ser feliz. Tem que ser o lugar”.
O dito pode ser antigo, mas o aprendizado – admito – é recente ...
Sempre julguei modestas minhas necessidades pra ser feliz, mas sempre incluía entre elas alguns fatores externos. Não me preocupo com o vil metal além do necessário pra pagar as contas e manter meus poucos caprichos. Não vinculo felicidade a um ponto no mapa, embora goste de viajar e tenha planos fora da província onde vivo.
Mas noto, em atitudes passadas, a tentativa infantilóide de controlar as incertezas – que são exatamente o colorido mais intenso, o tempero mais picante – da vida. Mais do que sobrevalorizar a existência do extrínseco, sentia a necessidade de sua posse ou seu controle. Imaturo, tive medo da montanha-russa dos sentimentos. Criança assustada, apesar da idade, tentava me preservar. Era como se me guardasse para a “vida que eu queria ter”, cego para a vida que se me oferecia.
Quantas vezes deixei de aproveitar a alegria contida em pequenos momentos ... Por projetar demais e não saber o que fazer com o inusitado, não percebi a beleza do efêmero. Sacrifiquei a alegria em prol de uma seriedade estéril, chata e impertinente. Dosei com conta-gotas as gargalhadas. Os palavrões. A indignação. A atenção. Até o bom-humor. Ao invés de banquete entre amigos, trash food sozinho.
Só agora percebo que o caminho é inverso. A felicidade é mais questão de entendimento do que de insumos. Pede que se perceba o mundo com os sentidos superlativos. Que se perceba a intensidade das luzes e cores. Que se consiga interpretar os sons do silêncio. Que se aprecie cada cheiro, cada perfume, como na infância – não por saudade, mas por pureza e curiosidade. Que se compreenda que doces, salgados e cítricos não são sabores antagônicos, mas que se completam e se compensam. E que se dê real sentido e valor ao toque, ao afago, ao aceno ...
Sinto que encontrar o lugar do ser feliz seja tão somente encontrar a si mesmo. Alcançar a serenidade para aceitar a chuva ou o sol, o frio ou o calor como possibilidades, não como problemas. Abraçar no reencontro e não somente na despedida. Dizer o que se sente, sem se levar tão a sério a ponto de se permitir combater ou ser combatido por opiniões alheias. Sorver a vida de gargalo. Jogar fora o conta-gotas.