terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Sobre o que não se entende

Aos amigos que reclamaram sobre a ausência de postagens (comentários muitas vezes não publicados, mas sempre considerados):

Sempre me perguntei sobre o que poderia definir melhor uma pessoa: suas atitudes, sua história, suas convicções, suas conquistas pessoais ou profissionais ... pois percebo atualmente a importância do "não entender", do "não poder explicar". O que se cala diz mais sobre nós do que nossas palavras.

Avesso que sou às justificativas (sempre tão chatas e não raro inúteis), acabo por perceber o sentido prático de um pensamento do Quintana: "a poesia não se entrega a quem a define".

Por vício de profissão, costumo analisar fatos e situações no sentido de explicá-los, torná-los mais previsíveis ou justificáveis. Esqueci que a grande utilidade da lógica é fazer pessoas diferentes pensarem maneira igual, através de simplificações. Deixei de considerar, no entanto, a vida não é (nem tem que ser) exata.

Muito se perde do cenário quando se tenta explicá-lo. Ao se dizer que "a refração da luz solar nas gotículas de água de chuva cria um efeito multi-colorido em parábola", só se consegue banalizar o espetáculo de um arco-íris.

Diante desta ilustração, percebe-se que talvez não seja tão importante entender, afinal. Aceitar belezas e diferenças talvez seja o imperativo.

Guimarães Rosa dizia que "o animal satisfeito dorme". Logo, a compreensão tende a distanciar o observador do objeto. E, conseqüentemente, a fazê-lo perder o interesse.

Há quem defina a si próprio e ao seu mundo pelo tanto que há nele. Prefiro adotar a minha definição pelo que ainda falta, pelo que me motiva a continuar buscando. Já não quero entender a ponto de explicar. Quero a insatisfação que me faz agir, mas não quero o conforto que me faz dormir.

Como dizia Vinícius ... "quem passou por esta vida e não viveu, pode ser mais mas sabe menos do que eu; porque a vida só se dá pra quem se deu, pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu" ...