segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

Estética, muros e pontes

Mais um pacato final de semana no Alegrete.
Calor insuportável. Mormaço. Tédio. Entre um chimarrão e outro, desejei que fosse agosto. Ah, o frio. O silêncio. Lasanha e vinho tinto. Lareira. Os dias nublados e as noites longas, que convidam à introspecção...
Lembrei de um ensaio do Vitor Ramil, “A estética do frio”, onde ele faz uma análise da chegada do inverno gaúcho apresentada por um noticiário e se identifica com aquele cenário quase europeu, concluindo que o frio constitui a metáfora definidora do gaúcho ao mesmo tempo em que é fator de distanciamento do Brasil “tropical”.
Tenho pensado sobre a imagem que nos define como indivíduos e como grupos sociais. Essa característica que, em uma primeira análise, constitui a “metáfora definidora”, parafraseando Ramil.
Não têm sido raras as vezes em que, diante de uma situação de conflito de idéias ou valores, percebo como se mostra pobre a idéia de adotar essa estética pra definir pessoas, seja de forma individual ou coletiva. Primeiro, porque o que se pretendia como retrato torna-se caricatura; depois, porque quando se pinça uma característica ou um traço acentuado, invariavelmente se deixa de lado uma enormidade de detalhes importantes, dentre os quais aqueles necessários à identidade comum – fundamental para o convívio.
Que a natureza humana é complexa, não há dúvidas. Que os interesses são diferentes, também não. Que as escalas de valores são completamente relativas, nem se fala. Mas o entendimento tem que ser possível. Aliás, é primordial, até por questão de sobrevivência ou de qualidade de vida.
Convivemos mais do que o necessário com métodos estéticos de formação de opinião. Isso definitivamente me incomoda. Creio que possamos mais. Do alto de toda a – pretensa – racionalidade humana, deveríamos ser capazes de análises mais elaboradas. Ou melhor, nós somos capazes! Mas antes disso, somos preguiçosos e preferimos construir muros ao invés de pontes.

Um comentário:

amalia disse...

Bah...cheguei em casa agora e esse texto fecha direitinho com uma situação que acabei de viver.É triste essa constatação de que é muito mais fácil e comum as pessoas se olharem e verem apenas o reflexo de seus preconceitos..será que é coisa de cidade ou alma pequena?
Gostei muito do post...
Abraços, e obrigada por me "linkar".
Pena que eu não sei fazer isso pra retribuir...