terça-feira, 24 de outubro de 2006

Daily Exchanges

Putz ... na correria e empolgação com as novidades, passaram-se meses desde a última postagem.

Tenho sentido falta de expor as divagações, mas aviso aos navegantes destes mares que o maior exercício tem sido a troca dos pensamentos pelas ações.

Nas reflexões características às vésperas da minha data natal, tenho descoberto (im)paciências que merecem atenção...

Aos que ainda freqüentam este espaço, um forte abraço!!

quarta-feira, 28 de junho de 2006

Licença Poética

Tenho tentado, há bastante tempo, encontrar a forma certa pra exprimir idéias recorrentes. Acredito que, no final das contas, não há palavras originais.

Por mais que se tente dar ares genuínos a pensamentos, filosofias e angústias, certamente alguém já passou por isso. E provavelmente já externou.

Assim, nasce hoje o Prosa e Verso, um novo blog, pra ocasiões em que palavras de outrem possam dizer o que eu não consigo.

As "divagações" continuarão. Com sua superficialidade abissal. Com sua (in)coerência de sempre. Com sua constância eventual. Ou não.

segunda-feira, 19 de junho de 2006

Compreensão tacanha, diálogo inexistente

Não tenho certeza se por ironia, limitação de pensamento ou pragmatismo (ou, quem sabe, pelo amálgama de ambos), costumo comentar alguns assuntos de forma pouco apaixonada. Talvez o pecado maior aos olhos de interlocutores desavisados nem seja esta visão mais "fria". Começo a crer que o simples fato de comentar é que às vezes incomoda.

Talvez soe pretensioso, mas entendo cômica – se não trágica – essa tendência de "matar o mensageiro" quando se aborda um tema do qual não se quer ouvir ou uma posição da qual se discorda. Ou o que é pior: quando se percebe que opiniões foram baseadas em adesão e não em pensamentos. Tão mais fácil seria ignorar. Quem não concorda, critique. Dê opinião. Contraponha. Regra primária da civilização e do diálogo.

Em diversas ocasiões esclareci que este espaço é apenas uma válvula de escape pra divagações e que não me atraem as ofensas a quem quer que seja. Sempre tomei cuidado para manter essa linha. Procuro, aqui, mais do que mil visitantes em pouco mais de três meses. Procuro interlocutores, para assuntos sérios ou não. Virtuais ou não. Lógicos ou não. Ponto.

Lembro da Canção Excêntrica, da Cecília Meirelles:

Ando à procura de espaço
para o desenho da vida.
Em números me embaraço
e perco sempre a medida.

Se penso encontrar saída,
em vez de abrir um compasso,
protejo-me num abraço
e gero uma despedida.

Se volto sobre meu passo,
é distância perdida.
Meu coração, coisa de aço,
começa a achar um cansaço
esta procura de espaço
para o desenho da vida.

segunda-feira, 12 de junho de 2006

Anúncio (des)classificado

Desde sexta-feira, tenho ruminado uma idéia ... por todos os lugares que passei haviam casaizinhos de mãos dadas, num clima de "love is in the air". Pudera ... um frio danado às vésperas de dia dos namorados! Em uma tentativa patética de descrever - como se fosse possível - a companhia ideal, lembrei de uma música do Juca Chaves, chamada "A Cúmplice":

Eu quero uma mulher
que seja diferente
de todas que eu já tive,
todas tão iguais...
Que seja minha amiga,
amante e confidente;
a cúmplice de tudo
que eu fizer a mais.

No corpo tenha o Sol
no coração a Lua
a pele cor de sonho
as formas de maçãs...
A fina transparência,
uma elegância nua;
o mágico fascínio,
o cheiro das manhãs.

Eu quero uma mulher
de coloridos modos,
que morda os lábios sempre
que for me abraçar...
Que seu falar provoque
o silenciar de todos
e seu silêncio obrigue-me
a fazer sonhar.

Que saiba receber,
que saiba ser bem-vinda;
que possa dar jeitinho
em tudo que fizer...
E que ao sorrir provoque
uma covinha linda;
de dia, uma menina de noite, uma mulher.

sexta-feira, 9 de junho de 2006

A província em evidência

Mais uma vez, minha terra natal é objeto de manchetes. E, para não variar, quando não são tragédias, são falcatruas. Ontem à tarde o Ministério Público noticiou que apresentou denúncia por formação de quadrilha, estelionato e lavagem de dinheiro, requerendo prisões preventivas e seqüestro de bens de pessoas envolvidas com desvio de valores na Urcamp.

Tenho acompanhado as manifestações de acadêmicos, inclusive no Orkut, pela apuração dos fatos. Apesar de alguns exageros casuais – compreensíveis, dada a gravidade da situação – e a clássica alienação de uns tantos, a densidade que o movimento adquiriu é interessante. O que me soa irônico é que nem se passaram doze meses desde que centenas de jovens foram às ruas para clamar pela tal "federalização" da Urcamp. Nas últimas semanas, o clamor vinha sendo por "providências".

Já afirmei neste blog que não me atraem as ofensas pessoais. Os envolvidos neste caso, independentemente de suas identidades, já estão usufruindo de todo o escárnio do qual são (in)dignos. Nada mais há a comentar sobre isto. O que tem consumido meu tempo em divagações é a possibilidade, aparentemente não percebida, de propor uma discussão sobre a relação de consumo que existe entre os acadêmicos e a Urcamp. Não é nenhuma novidade que o custo-benefício não é dos mais favoráveis ao educando. Também não é nova a informação que o índice de inadimplência é inferior à média estadual. Isso, sem se falar nos preços!

Lembro que nos "meus tempos de acadêmico" (início da década de noventa), era bastante difícil tratar esse tipo de assunto porque os Diretórios Acadêmicos possuíam poucos associados, o que sugeria que sua representatividade era menos expressiva. Atualmente, há uma efervescência capaz de legitimar representantes estudantis - e mesmo dos professores e funcionários - a bater na mesa e "discutir a relação" com a universidade.

Ouso imaginar que, nessa ocasião, a província novamente estaria em manchetes de Zero Hora ou Correio do Povo (e, lógico, na Gazeta, no Em Questão e no Diário de Alegrete) ... só que por motivos não-pejorativos.

quarta-feira, 24 de maio de 2006

Pasta e Goethe

Cada vez mais me convenço que as coisas, pra serem boas, não precisam deixar de ser simples. Pelo contrário. No mais daz vezes, simplicidade é fator determinante. Frio "de renguear cusco" + Uma passadinha no WalMart (acredite! tem disso aqui na província!) = Opção do dia (ou melhor, da noite): spaghettini com tomates-cereja, manjericão e um generoso fio de azeite ...

Goethe disse que "o verdadeiro, o bom, o inigualável é simples e é sempre idêntico a si mesmo, seja qual for a forma sob a qual ocorre" ...

terça-feira, 16 de maio de 2006

O que eu desejo pra você

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.

E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.

E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,

Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.

E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.

(De Victor Hugo, adaptado por Vinícius de Moraes)

quinta-feira, 11 de maio de 2006

Aos umbrícolas da mediocracia

Caros Senhores

É aviltante a decadência moral das figuras públicas que estampam manchetes e alimentam os círculos de debate de norte a sul do país. De todas as suas características, as que mais me incomodam são a mediocridade e a total falta de efetividade. São zeros à esquerda em termos de promoção do bem comum. Verdadeiros parasitas, determinados a aplicar de forma voraz a – infame – Lei de Gérson. Perfeitos mediocratas. Criaturas que vivem nas sombras de sua própria insignificância, quase imperceptivelmente, até o momento em que surge a oportunidade de "dar o bote".

Entretanto, é necessário reconhecer que a falta de ideais, a omissão e a promoção da auto-imagem de "coitados" – no mais das vezes carentes de atitudes como indivíduos e como grupo social – acaba fazendo da sociedade o terreno fértil para a disseminação dessas personulidades. Quando nossa escala de valores morais é posta de lado, a mediocracia se instala e toma ares incontrastáveis de sistema. O conceito de Pátria deixa de existir. Os ideais parecem ridículos. Ao invés de haver foco no debate de problemas e busca de soluções, discute-se sobre pessoas. Quantidade passa a valer mais que qualidade. Surgem "partidos" que reúnem sob suas bandeiras indivíduos dispostos a obter poder e vantagens em detrimento do bem-estar coletivo. É a proliferação da praga.

Quando nós, Nação, encarnamos a apatia, damos condições à consolidação desses que, por sua vez, são bonzinhos, sorridentes e populares – Oscar Wilde dizia que só são populares aqueles que são medíocres, no sentido de que todas as nossas ações nos possibilitam adquirir um inimigo.

Analogamente à Democracia, mediocracia deve significar "governo dos medíocres, pelos medíocres e para os medíocres". Mas é mais que isso. Trata-se de uma forma truncada de governar, sem continuidade histórica e onde a crise é um fantasma perene.

Para combater a obscuridade que se cria, são necessárias a consciência e a ação. A adoção e a prática de ideais. O exercício da opinião. A reavaliação de méritos. A busca da superação individual pela sinergia.

O caminho é árduo, mas não impossível.

A ordinariedade que me perturba

Talvez por causa da autoreferência inerente ao ser humano, nunca entendi como pessoas se contentam em “ser média”. Não que minhas ambições sejam exacerbadas, mas penso que cada um deve lutar por algum diferencial, alguma extraordinariedade. Principalmente em termos de qualidade do que deseja pra si e do que faz.

Li, em algum lugar, um comentário irônico que dizia, em outras palavras: “Chegamos a duas conclusões: a primeira é que estamos acima da média; e a segunda é que a média não é lá grande coisa”. Ou seja: cuidado com a comparação. O ponto de referência precisa ser interno, e não externo.

Aprendi que a diferença entre “a média” e a superação é definida, normalmente, por um esforço que outros não tentaram. Às vezes o “extraordinário” é definido por cinco minutos a mais de empenho e de persistência. Ser comum é tão somente ser mais um. Não quero pra mim o predicado de “ordinário”. Nem de “medíocre”. Sou consciente acerca das minhas capacidades e incapacidades. Mas mesmo assim quero, a cada dia, melhorar.

Sobre medo e atitude

Uma mensagem contida no filme "Treinador Carter", que sugere reflexão:
Nosso medo mais profundo não é sermos incapazes. É termos poder demais. É nossa luz, não nossa obscuridade, o que mais nos assusta. Ser pequeno não serve ao mundo. Não há nada de sábio em se diminuir para que outras pessoas não se sintam inseguras à nossa volta. Fomos todos feitos para brilhar, assim como as crianças. Não está apenas em alguns, mas em todos nós. E, na medida em que deixamos nossa própria luz brilhar, inconscientemente permitimos que outros façam o mesmo. Já que nos livramos de nosso próprio medo, nossa presença automaticamente libera outros.

quinta-feira, 4 de maio de 2006

Religação ou Comércio?

Gosto de pensar que a sabedoria popular nos oferece valiosos conselhos. Um deles é o que diz: “religião não se discute”. Diferente do que possa parecer, minhas considerações não têm propósito discriminatório. Muito pelo contrário. Pretendo, ao final, concordar com aquele postulado.

Pelo que sei, o termo “religião” deveria significar re-ligação. Digo “deveria” porque não é o que percebo, daqui da província onde vivo. Ao invés de promover o restabelecimento da conexão entre o homem e a divindade (ou, pelo menos, dos homens entre si), o que salta aos olhos é um exercício comercial exacerbado, onde a fé ocupa simultaneamente os papéis de produto final e de ferramenta de venda. Em cada ponto das cidades pipocam “franquias”, sob diferentes bandeiras, que exploram crenças a preços nada módicos e disputam seus clientes com todas as armas que o marketing pode oferecer. Peço desculpas pelo mau trocadilho, mas ao que parece “o céu é o limite”.

O pior de tudo: percebe-se claramente que há uma contenda pela “verdade absoluta” entre as tais "correntes religiosas", o que fomenta a segregação e, portanto, desvirtua a etimologia da palavra. Entendo que a prática da fé constitua fator fundamental ao equilíbrio mental de qualquer ser humano - até quem não crê em uma “força superior” tem sua fé - uma vez que a consciência da finitude sempre nos abalou profundamente. Avalio que a oração - ou a meditação, ou qualquer outro termo que se queira adotar - ofereça um caminho válido para a reorganização do dia-a-dia, a revisão das atitudes e a manutenção da própria sanidade.

As religiões, na exploração da fé ao longo da história, acabaram popularizando princípios básicos de ética e moral, o que constitui uma contrapartida apreciável. Da mesma forma, é inegável o fato de que igreja e poder sempre caminharam juntos. Guerras foram - e ainda são - travadas em nome da fé. No ocidente, houve uma certa separação entre os dois, enquanto há culturas orientais onde ainda se fundem. Mas não há o que justifique vilipendiar o desespero alheio através do comércio.

Diz-se que os valores - éticos, morais e comportamentais - que adotamos e praticamos são diretamente relacionados à nossa experiência de vida. Tive a oportunidade de fazer o - então chamado - primeiro grau em uma escola “de freiras”. Talvez até por ter, desde criança, uma grande dificuldade em aceitar os tais “dogmas”, nunca fui um fiel praticante. Já passei por crises de fé suficientes para perceber que, por mais que se busquem novas respostas, as perguntas continuarão mudando. Aprendi, com isso, que em termos de fé não há como aceitar uma verdade absoluta. Por ser opção de cada um, trata-se de verdade relativa. Ou seja, é questão de gostar e adotar. Desde que promova a religação e respeite o sentido original do termo, não se discute. Ponto.

sexta-feira, 28 de abril de 2006

Urgência ...

Preciso admitir que o esforço para manutenção deste espaço se transformou desde sua criação, no que diz respeito às próprias divagações que lhe deram nome - tanto pela diversidade de temas que me inquietam quanto pela necessidade de expressá-los de forma clara e não-ofensiva. A impressão é que diversas idéias surgem praticamente ao mesmo tempo, com uma urgência que eu não conhecia.

O que começou em tom de desabafo tem constituído um processo de revisão de valores e posicionamentos ... só tenho a agradecer aos amigos que freqüentam este espaço a me dão a honra e o incentivo de dispor de alguns minutos de seu tempo.

quarta-feira, 19 de abril de 2006

E por falar em infância ...

Relendo o post anterior, comecei a lembrar de hábitos que adquiri ainda quando piá, como o gosto por leitura - mesmo que fossem gibis. Lembro que eu sabia os dias certos do mês pra chegada nas bancas – ou melhor, no Bazar Peninha – de cada um deles.
Um dos personagens que me fascinou desde o primeiro contato foi o Surfista Prateado - apesar de eu não ter consciência das questões filosóficas que o afligiam. Seu dilema gravitava em torno da escolha que fez com que ele se visse afastado definitivamente das coisas que mais amava e que trouxe como resultado a convivência com um ambiente totalmente avesso aos seus valores. Eram minhas primeiras lições de Ética ...
O cara dizia:
“Eu não conheço o propósito do destino humano. Não sei por que razão existo no grande esquema místico das coisas, mas de uma coisa estou certo agora e sempre: enquanto houver vida em meu corpo, enquanto o sangue fluir por minhas veias, eu farei o que meu coração e consciência ditarem ... jamais causarei mal a outro ser e vou agir com todos como gostaria que agissem comigo. Se tais atos me causarem tristeza, então com orgulho suportarei tal fardo, seguro de saber que fiz o melhor. Homem algum pode fazer mais.”

segunda-feira, 17 de abril de 2006

Nostalgia de Páscoa

Acordei cedo. Junto com o friozinho, o domingo me trouxe nostalgia. Não aquela das coisas que não voltam mais. Uma outra, de um tempo que não vivi. Enquanto tomava meu mate, sozinho e em silêncio, pensei em como poderiam ter sido os últimos vinte anos junto a um casal cuja companhia já não posso ter.
Ela, não vejo desde dezembro de 1985. Ele, desde o Natal de 1995. Nunca esqueci os olhares, os puxões de orelha e algumas cenas que vivemos juntos. Aos quatro anos, ela me ensinando a ler e escrever... Aos cinco anos, ele me ensinando a andar de bicicleta no pátio da casa que ainda moro... Nos momentos mais difíceis senti suas presenças e nunca duvidei que, de alguma forma, olhavam por mim. Nos bons momentos - como os atuais - foram os primeiros a quem, em pensamento, agradeci orientações e conselhos. Percebo que herdei - ou adquiri por osmose - e hoje carrego comigo muitas das manias que tantas vezes critiquei.
O fato é que poucas vezes desejei tão profundamente como nesse domingo tê-los comigo - por minutos que fossem - para um abraço apertado, sem maiores comentários. E acreditem: não há tristeza nenhuma nisso. Há, quando muito, a expectativa não satisfeita de uma alegria. Mas a vida é assim ...
Na adolescência, sempre me enchia de alegria ser chamado pelo nome ao invés de ser referido como "o filho do fulano" - penso que deveria ser questão de afirmação de identidade, característica daquela fase. Hoje em dia, adulto e sem ouvir essa "descrição de linhagem" há muito tempo, sinto essa saudade de um tempo não vivido. Em outras ocasiões, pretendo falar mais sobre essas figuras...
Nesse meio-tempo, vou me apresentando: sou o filho mais velho do Nei e da Regina!

terça-feira, 11 de abril de 2006

O Tempero da Vida

Retomei ontem um hábito de consumo que estava relegado a um segundo plano há mais de seis meses: os filmes. Putz, foi tanto tempo que a locadora mudou de endereço e eu nem sabia!

Por recomendação de uma amiga, meu objetivo era assistir a “O Tempero da Vida”, sem nenhuma pretensão além de que fosse um bom passatempo. Fui surpreendido pelas memórias de Fanis, um professor com dotes culinários que, quando menino, teve em seu avô um grande mestre na arte do uso dos temperos - e nas inevitáveis metáforas acerca da vida, que assim como a comida precisa de sal e pimenta pra ter gosto.

Separados no final dos anos cinqüenta em razão do conflito político entre gregos e turcos, o jovem cresce na expectativa de rever o avô e sua namoradinha de infância. Aos quarenta anos, uma viagem de retorno à Grécia coloca-o diante da possibilidade de, finalmente, reencontrá-los.

Mas qualquer tentativa de descrição suscinta tornará pobre o conteúdo do filme.
“O Tempero da Vida” merece ser visto. Ou melhor, digerido.

segunda-feira, 10 de abril de 2006

Deu a lógica: o trilocor é Campeão Gaúcho ...

No mais das vezes, tenho procurado abordar aqui temas mais formais. Nunca tive como objetivo utilizar este espaço como veículo de afrontas pessoais - e pretendo que isso continue exatamente dessa maneira. Até não penso que futebol seja assunto fútil, mas a paixão que o circunda tende a criar rivalidades tanto agudas quanto desnecessárias.

Agora, com o perdão dos meus amigos colorados ... o título deste post diz tudo! Ouvi torcedores do Internacional dizendo: "que coisa mais sem graça ganhar um campeonato sem ganhar o jogo". Digo-lhes o seguinte: "Pior ainda é perder o título sem ter perdido o jogo ..."

Apenas pra que não me recriminem individualmente, transcrevo uma crônica do Juremir Machado da Silva, publicada no Correio do Povo em 30/11/2005. Tratam-se de palavras de um colorado, portanto:

MILAGRES E ESTILOS

O Internacional é um time de pobres. Nós. Nunca terá convicções de gremista. São duas visões de mundo. O Grêmio é a cara do Rio Grande: arrogante, fanfarrão, pachola, varzeano e, por isso mesmo, capaz de se impor e de vencer em qualquer situação. O Inter, como qualquer pobre de caricatura, está sempre meio envergonhado, vai logo dizendo, 'desculpe qualquer coisa', intimida-se com facilidade. Na casa dos ricos, tem medo de sujar o sofá. Como todo pobre complexado, quer jogar bonito, ganhar com elegância, mostrar boas maneiras. O Grêmio, como rico prepotente e seguro de si, não está nem aí para os bons modos: quer é resultado, a qualquer preço.

Ao ser roubado, contra o Corinthians, Tinga já levantou se explicando. O Inter discutiu durante três minutos e acatou a decisão do árbitro. Já em Recife, os jogadores do Grêmio peitaram e chutaram o juiz, criaram um clima terrível, condicionaram tudo e levaram varzeanamente o resultado. O pênalti deveria ter sido batido novamente, pois o goleiro gremista se adiantou. Mas o juiz já estava apavorado, louco para expulsar alguém do Náutico e se ajoelhar diante dos gremistas. Acho que Anderson cobrou a falta para ele mesmo na hora do seu gol impossível. Que importa? O Grêmio já tinha vencido a batalha da 'catimba'.

Existe um inconsciente esportivo. Quando o jogador chega ao Olímpico, assimila um passado de rico dono do mundo, de quem inventa o próprio marketing e o transforma em verdade. No Beira-Rio, o atleta vira um sonhador. O Inter, quando ganha, faz obra-prima, como em 1975 e 1976, ou algo inédito, como o campeonato invicto de 1979. Mas isso é raro e fora de moda, do 'tempo em que se amarrava cachorro com lingüiça', como diria o filósofo Felipão. O Grêmio é um investidor neoliberal que não se preocupa com estética e, se compra quadro, é pelo valor de mercado.

Não falo de ser rico, mas de ter uma atitude de dominação e de mando. Paradoxalmente, castilhismo, gremismo e petismo representam esse espírito de arrogância tipicamente gaúcho. Maragatos, colorados e excluídos encarnam esse idealismo romântico e estetizante dos pobres ou ricos com sensibilidade poética. Como houve milagre em Recife, o Inter não poderá ser beneficiado pelos céus no próximo domingo. Ou Deus será acusado de beneficiar os gaúchos e poderá ser chamado a depor numa CPI sob suspeita de 'mensalão'. Além disso, só o Grêmio é imortal.

terça-feira, 4 de abril de 2006

Coelho da Páscoa: canibal ou chocólatra?

Há cerca de seis meses, comentei sobre a federalização da Universidade da Região da Campanha e admiti que, apesar de não acreditar que fosse possível aquela propalada maravilha - que de fato não houve, esperava que o movimento pelo ensino superior público na fronteira tomasse ares de metáfora transformadora, não obstante a politicagem explícita. Houve quem concordasse em parte com minhas considerações, quem discordasse completamente e quem calmamente afirmasse que minhas conclusões eram equivocadas. Mas esse era o risco, afinal de contas.
Quem me conhece sabe que tenho propensão a crer tão somente no que vejo. Não admito com isso ceticismo, apenas cautela. Penso que por "vício de profissão" busco apreender o contexto ao invés de analisar os fatos isoladamente. Trago comigo - desde as aulas de Teoria Geral da Administração ministradas pelo Sérgio Bertelli no saudoso Centro Integrado de Ensino Superior de Alegrete - que a "dúvida sistemática" é um princípio válido para toda a vida, em todas as situações. Não há nada de errado em alguém buscar mais informações antes de se dar por convencido sobre algo.
Confesso que até hoje tenho dificuldade para acreditar na real existência de centenas de bolsas de estudo divulgadas desde aquela época, as quais beneficiariam inclusive acadêmicos dos cursos em andamento. Aliás, de todas as falácias daqueles dias de palanques e passeatas, o que mais se aproxima da realidade é a bolsa pedida pelo Luís Fernando ao próprio presidente Lula, num dos eventos havidos em Bagé em prol da federalização. Diga-se que depois de ter ido a Brasília - e voltado orgulhosamente de carona num avião da Força Aérea - o acadêmico não trouxe nada mais consistente que algumas fotos ao lado do mandatário maior da república e uns tapinhas nas costas seguidos da promessa de "vamos dar um jeito". Pena que pouca gente saiba que esse rapaz já havia sido "agraciado" com créditos educativos e, mesmo assim, possuía débitos junto à URCAMP. Fotos e manchetes foram publicadas, mas de solução não se tem notícias. Em português fluente: o "Cromado" tá famoso, mas continua com um abacaxi na mão...
E por falar nessa fruta, corre um boato no meio acadêmico sobre uma "discrepância contábil" na ordem de algumas dezenas de milhares de reais num campus da fronteira. Tenho certeza que, no fim das contas, não terá passado de um mal-entendido. Quando muito, alguém apontará "erro humano" - nada mais natural, segundo o provérbio - e tudo voltará a ser como antes.
Mas - como diz o gaúcho - "voltando à vaca fria" ... alguém ponderou sobre a demanda pros tais cursos de extensão da UFSM? Da forma como está apresentada, será que a UNIPAMPA é viável? Há possibilidade, ainda que remota, de aplicação de recursos em pesquisa e desenvolvimento no sentido trazer progresso à fronteira?
Que me desculpem os mais crédulos, mas ainda estão ocorrendo manobras. Há tempo pra que não deixemos que nossas esperanças sejam usadas contra nós.
Ah, mais uma coisa: a metáfora do Coelho da Páscoa está se autofagocitando ou comendo os próprios ovos de chocolate?

quarta-feira, 29 de março de 2006

Personulidades

Tenho pensado com certo entusiasmo na criação da comenda "Personulidade do Ano" como forma de prestar homenagem àquelas ilustres figuras - públicas ou não - que garantem que as coisas continuem exatamente como estão. Ou seja, apesar de sua normalmente forçada popularidade, o fato de existirem não faz a menor diferença em termos práticos. Muitos poderiam ser "nominados". Desde políticos até profissionais festejados pela mídia, sem esquecer das celebridades instantâneas e outros similares. Tanto locais quanto nacionais.
Se fosse eu a decidir, não pestanejaria em deferi-la à protagonista da "dança da pizza". Não tanto pela alegria incontidamente demonstrada - característica de qualquer palhaço que se preze. Mas pela total falta de respeito aos brasileiros que contavam ser tratados com um mínimo de dignidade.
Não há dúvida quanto à imprevisibilidade e à complexidade do comportamento humano. Diversos estudiosos procuraram - e encontraram, à sua maneira - uma definição sobre o assunto. Adler teorizou sobre o "complexo de inferioridade" e aceitava a agressão e a vontade de poder como fatores positivos. Rousseau dizia que a sociedade corrompe o ser humano. Iung classificou os introvertidos e os extrovertidos. Freud atribuía uma causa precedente a cada pensamento ou ação. E tantos outros ...
Mas há as inexplicáveis "personulidades". Se procurarmos com cuidado, encontramos exemplares nos mais diversos momentos históricos. Mas atualmente há uma avassaladora prevalência desses bichos inúteis.
Diante da impossibilidade de combate, proponho que passemos a premiá-los. Ou melhor, passemos a condecorá-los. Porque premiados já são. E sempre às nossas custas.

domingo, 26 de março de 2006

Aos visitantes ...

Em respeito às dezenas de visitas que este humilde blog tem recebido e em resposta às inúmeras mensagens eletrônicas que eu NÃO RECEBI pedindo explicações pela ausência de atualizações, devo esclarecer: passei duas semanas em treinamento no CT Serraria, em companhia de mais de cento e trinta outros colegas ... nota dez! E, na última semana, iniciei minha carreira de bancário e realmente não tive tempo de ligar o micro ...

Em tempo: um abraço aos novos amigos das turmas 11, 12, 13 e 14 do programa "Integração de novos empregados do Banrisul" ... em especial aos componentes do "Carandiru 110", que acabou virando comunidade do Orkut: Samafás, Rafael e Paulo - e aos "membros honorários" Ana Paula, Regi, Clarissa, João Paulo, Nedson e Fernando ...

quinta-feira, 2 de março de 2006

Ah, o cuidado ...


Em meio àqueles pensamentos vagos que assolam qualquer mortal abstêmio em um feriado de Carnaval, lembrei de um livro cuja recomendação me foi feita há alguns anos por uma namorada, acadêmica de Psicologia: "Saber Cuidar", do Leonardo Boff.

Foi como se "caísse a ficha"! Nesse habitat criado pela tecnologia e pelo moderno "way of life", acabamos nos isolando e, via oblíqua, ficando carentes de contato humano. Todavia, várias fontes ensinam que a essência humana se encontra basicamente no cuidado. Este acaba sendo o suporte real da criatividade e da própria inteligência. O tamagochi, fenômeno mundial surgido na segunda metade dos anos 90, representava um bichinho de estimação virtual, que carecia exatamente da atenção de seu dono para "continuar a existir", denunciando metaforicamente o grau de solidão em que as pessoas se encontravam e a sua necessidade de exercitar o tão precioso zelo.

Quem precisa de tamagochis, quando há tanta gente por perto, igualmente sensível à essa sadia convivência, disposta a dividir, a acompanhar, a conversar sobre assuntos sérios ou banais, profundamente ou não? Essas pessoas que chamamos simplesmente "amigos" ...

Só por ter conseguido perceber isso, talvez já me tenha valido o feriado!

Irônica contemporaneidade

Retomei neste feriado de Carnaval – pela enésima vez – a leitura de "As veias abertas da América Latina", do Eduardo Galeano, cuja primeira edição data de 1970 (confesso que ainda não identifiquei o real motivo de não ter levado a termo essa empreitada das outras vezes: se por indignação ou por incompetência, mesmo).

De qualquer forma, um trecho em particular – onde é proposto que os capitais latino-americanos poderiam ser utilizados em reposição, ampliação e criação de fontes de produção e trabalho – causa uma desagradável sensação de estagnação histórica (não encontrei termos mais adequados no meu parco vocabulário):

"... incorporadas desde sempre à constelação do poder imperialista, nossas classes dominantes não têm o menor interesse de averiguar se o patriotismo poderia ser mais rentável do que a traição ou se a mendicância é a única forma possível de política internacional ..."

Àqueles que porventura acreditam que há progressos históricos na política latino-americana, cabe reavaliar os pontos de vista. Até mesmo a leitura de uma obra com mais de trinta e cinco anos poderá ser útil ...

Comentário necessário

Aos queridos amigos Darci, Erasmo e Fermino: desejo que, apesar da mudança de caminhos, nosso convívio possa continuar intenso e que possamos dividir angústias, expectativas e projetos em prol do espírito de equipe que nos uniu em 2005. Um forte abraço!!

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

Solteiro, sim... e daí?

Há algum tempo venho comentando, nas conversas de todo e cada dia, que não entendo como ainda haja gente que deseje, com urgência e de forma obsessivo-compulsiva, encontrar alguém e casar. Isso deve ser fruto de termos sido maquiavélica e subliminarmente impelidos a esse tipo de necessidade, desde a mais tenra infância, por histórias como "Branca de Neve", "Cinderela" e outras congêneres, onde os casais são felizes para sempre sem nunca antes terem se visto.

Normalmente, a reação dos meus interlocutores chega a ser agressiva: “Ah, é? E tu te imaginas sozinho, daqui a vinte anos?”; “Bah, como tu és frio...”; “O que fizeram pra te deixar amargo assim?” ou então “Tu preferes ficar só? E o que tu fazes com a solidão?”. Sinceramente, não consigo acompanhar a lógica desses questionamentos.

Embora um comentário mais objetivo costume irritar ainda mais os que entendem que só aos pares o ser humano pode encontrar a felicidade, costumo esclarecer que conviver bem com o fato de ser solteiro nada tem a ver com estar sozinho ou mesmo solitário. O que tento apontar é que, até por uma questão de diferença de valores e costumes, não cabe mais aquela visão ortodoxa de vida a dois: homens e mulheres trabalhando, optando por investir prioritariamente em suas carreiras profissionais; a reformulação dos próprios conceitos de amor, de realização e de bem-estar pessoal etc.

Não sou antagonista dos mais românticos nem desfaço de suas “metáforas definidoras”. Pelo contrário, tenho profundo respeito. Apenas defendo veementemente a necessidade de que conheçamos a nós mesmos antes de jogar sobre os ombros do parceiro ou da parceira a responsabilidade de nos fazer feliz. Isso é, inexoravelmente, tarefa de cada um. E o processo de conhecimento e aceitação individual passa por aprender a estar só. A conviver consigo mesmo. A constatar que não somos metades e sim inteiros. Como posso esperar entender as idiossincrasias da outra pessoa se não tolero as minhas próprias ou, pior que isso, se nem tenho consciência de sua existência? Logo, quanto mais apta for uma pessoa para estar só e administrar suas próprias angústias, tanto mais estará para viver a dois.

É esse, ao meu ver, o grande mote: a parceria. Gostar de estar com alguém é muito diferente de precisar estar com alguém. A pessoa amada não tem que ser a solução dos problemas. Tem que ser boa companhia de viagem, isso sim.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

Só de Sacanagem ...

Recebi por e-mail o vídeo da Ana Carolina recitando o texto a seguir durante seu show. Procuro evitar a mera transcrição de palavras alheias, mas esta maravilha escrita pela Elisa Lucinda merece ser divulgada na íntegra. Os corações e mentes tocados por esse sentimento de indignação serão de extrema valia no resgate do verdadeiro valor do povo brasileiro ...
Meu coração está aos pulos! Quantas vezes minha esperança será posta à prova? Por quantas provas terá ela que passar? Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, do nosso dinheiro, que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós, para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais. Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova? Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais? É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e dos justos que os precederam: "Não roubarás!" "Devolva o lápis do coleguinha!" "Esse apontador não é seu, minha filhinha." Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar. Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha ouvido falar e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda vou ficar. Só de sacanagem!
Dirão: Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba e eu vou dizer: não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau.
Dirão: é inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal. Eu direi: não admito, minha esperança é imortal. Eu repito, ouviram? I-MOR-TAL!
Sei que não dá para mudar o começo, mas SE A GENTE QUISER vai dar para mudar o final!

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

Freakonomics

Comentei num post anterior sobre o "Pegando no Tranco", do Ricardo Neves. Finalmente hoje à tarde consegui encomendar um exemplar, que deve chegar ainda esta semana. Enquanto aguardava que a vendedora verificasse o título, encontrei na prateleira o livro "Freakonomics - O lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta", do economista americano Steven Levitt. Amor à primeira vista. Comecei a ler e não consigo parar.
Assim como Ricardo Neves, Levitt propõe, de forma muito interessante, novas perguntas (e também respostas) referentes a temas ligados à Economia, refutando as conclusões que nos oferece a "sabedoria convencional". Leitura recomendada, sem dúvida!

Estética, muros e pontes

Mais um pacato final de semana no Alegrete.
Calor insuportável. Mormaço. Tédio. Entre um chimarrão e outro, desejei que fosse agosto. Ah, o frio. O silêncio. Lasanha e vinho tinto. Lareira. Os dias nublados e as noites longas, que convidam à introspecção...
Lembrei de um ensaio do Vitor Ramil, “A estética do frio”, onde ele faz uma análise da chegada do inverno gaúcho apresentada por um noticiário e se identifica com aquele cenário quase europeu, concluindo que o frio constitui a metáfora definidora do gaúcho ao mesmo tempo em que é fator de distanciamento do Brasil “tropical”.
Tenho pensado sobre a imagem que nos define como indivíduos e como grupos sociais. Essa característica que, em uma primeira análise, constitui a “metáfora definidora”, parafraseando Ramil.
Não têm sido raras as vezes em que, diante de uma situação de conflito de idéias ou valores, percebo como se mostra pobre a idéia de adotar essa estética pra definir pessoas, seja de forma individual ou coletiva. Primeiro, porque o que se pretendia como retrato torna-se caricatura; depois, porque quando se pinça uma característica ou um traço acentuado, invariavelmente se deixa de lado uma enormidade de detalhes importantes, dentre os quais aqueles necessários à identidade comum – fundamental para o convívio.
Que a natureza humana é complexa, não há dúvidas. Que os interesses são diferentes, também não. Que as escalas de valores são completamente relativas, nem se fala. Mas o entendimento tem que ser possível. Aliás, é primordial, até por questão de sobrevivência ou de qualidade de vida.
Convivemos mais do que o necessário com métodos estéticos de formação de opinião. Isso definitivamente me incomoda. Creio que possamos mais. Do alto de toda a – pretensa – racionalidade humana, deveríamos ser capazes de análises mais elaboradas. Ou melhor, nós somos capazes! Mas antes disso, somos preguiçosos e preferimos construir muros ao invés de pontes.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

Mea Culpa

Há algum tempo venho remoendo uma idéia, o que me levou à triste (e óbvia) conclusão: a geração a que pertenço tem grande responsabilidade pela realidade em que vivemos. Se não pelas ações, muito mais pelas omissões. Fomos educados no momento histórico brasileiro em que a ditadura militar estava no seu auge e, portanto, aprendemos que "política é feio". Pensar ou discutir qualquer tema ligado ao assunto nos era tacitamente proibido. Avalio que isso nos tenha inclinado a uma certa acomodação e que, por via oblíqua, tenhamos aceitado e acreditado em conceitos errados e pessimistas, sem nunca questioná-los. Aquelas crianças e jovens tornaram-se adultos e hoje são responsáveis por suas famílias, por seus negócios e até mesmo pelos grupos sociais a que pertencem. Em outras palavras, são (ou melhor, somos) inegavelmente agentes políticos. Todavia, nossa bagagem ideológica no que tange à política é pobre, exatamente porque não exercitamos nenhuma filosofia em sua construção. Identificamos os que se declaram "apolíticos" – como se possível fosse – e os que se dizem "politizados" – sendo que meramente aprenderam a utilizar a seu favor estruturas político-partidárias – e, naturalmente, há as raras e honrosas exceções, mais conscientes e proporcionalmente inquietas.
Há alguns dias, assisti a uma entrevista com o consultor Ricardo Neves, acerca do lançamento do livro "Pegando no Tranco – O Brasil do jeito que você nunca pensou". Diante da temática e dos questionamentos propostos, não consegui deixar de acompanhar os comentários do autor. Diretor da empresa de consultoria empresarial itC, com experiência em gestão de projetos para as Nações Unidas, Banco Mundial e Banco Interamericano, Ricardo Neves afirma categoricamente que temos uma percepção equivocada da realidade brasileira em razão de muitas de nossas concepções serem obsoletas, dando como exemplo a confusão entre pobreza e baixa renda, apontando a informalidade como um complicador.
Leitura recomendada para a desconstrução de paradigmas, principalmente aos que concordam com o título deste post ...

Divagações ...


Incrível a sensação de alívio quando se consegue externar alguns pensamentos reincidentes ...

Espero que os eventuais leitores apreciem, concordem, discordem, critiquem ... o feedback será muito bem vindo!

Saúde x CPMF

Há algumas semanas, encaminhei para diversos amigos o artigo assinado pela Juventude do Partido do Movimento Democrático Brasileiro, intitulado “Alegrete pede saúde”, tendo recebido diversos elogios à iniciativa desses jovens alegretenses que, cientes da importância de sua participação no debate e na busca de soluções para nossas mazelas sociais, demonstraram interesse e se manifestaram publicamente sobre questões ligadas aos serviços de saúde em nosso município.

Da mesma forma como se deve reconhecer que o problema não é exclusivamente nosso (o colapso do sistema de saúde ocorre, a olhos vistos, em âmbito nacional), é correto o entendimento que somente a busca de informações, a transparência dos processos e a participação efetiva da sociedade civil podem reverter este caótico quadro. Nesse sentido, cabe trazer à discussão um tema intimamente ligado ao questionamento proposto pela JPMDB Alegrete: a CPMF.

Quando o Governo Federal criou a Contribuição Provisória (que virou Permanente) sobre Movimentações Financeiras, há quase dez anos atrás, o objetivo anunciado era exatamente o de financiar ações e serviços de saúde. Todavia, não é perceptível nenhuma melhora significativa, seja no que diz respeito a atendimentos ambulatoriais, métodos diagnósticos, fornecimento de medicamentos ou mesmo internações hospitalares. Muito pelo contrário, o que se apresenta a qualquer cidadão que observe atentamente o cenário da saúde pública é a crescente deterioração do sistema, onde as deficiências são cada vez maiores e se presenciam, a cada dia, faltas injustificáveis de equipamentos fundamentais – como ambulâncias – e a ausência de medicamentos de uso rotineiro - como AAS, diclofenaco e paracetamol.

Ou seja: a toda evidência a instituição da CPMF foi completamente inócua no combate à problemática da saúde pública! E o que é pior: em quase dez anos não houve quem informasse com clareza qual a quantia mensal necessária ao funcionamento do sistema de saúde no Brasil, assim como também não há informação de qual o montante arrecadado mensalmente com a CPMF nem de que destino seja dado aos recursos dela oriundos. Talvez seja assunto sigiloso (ou, quem sabe, a saúde a que se referiram os “pais da criança” fosse a saúde financeira de uns e outros).

É necessária a abertura desta “caixa preta”. A população precisa saber qual a serventia do “confisco” de 0,38% das movimentações financeiras no país. Isso sem falar na parte das apostas do “cassino” institucionalizado pela Caixa Econômica Federal, cuja aplicação deveria ser em saúde, pelo que se lê no verso dos cartões...Não tem cabimento que milhares de cidadãos do Oiapoque ao Chuí façam uma verdadeira “via crucis” em busca da rede pública de saúde, engrossando filas quilométricas e implorando por condições mínimas de atendimento, como se saúde pública não fosse responsabilidade constitucional do Estado – ou seja, elementos de inclusão social e cidadania como atendimento digno, assistência médica e fornecimento de medicamentos são tratados como uma benesse estatal.