quarta-feira, 24 de maio de 2006

Pasta e Goethe

Cada vez mais me convenço que as coisas, pra serem boas, não precisam deixar de ser simples. Pelo contrário. No mais daz vezes, simplicidade é fator determinante. Frio "de renguear cusco" + Uma passadinha no WalMart (acredite! tem disso aqui na província!) = Opção do dia (ou melhor, da noite): spaghettini com tomates-cereja, manjericão e um generoso fio de azeite ...

Goethe disse que "o verdadeiro, o bom, o inigualável é simples e é sempre idêntico a si mesmo, seja qual for a forma sob a qual ocorre" ...

terça-feira, 16 de maio de 2006

O que eu desejo pra você

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.

E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.

E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,

Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.

E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.

(De Victor Hugo, adaptado por Vinícius de Moraes)

quinta-feira, 11 de maio de 2006

Aos umbrícolas da mediocracia

Caros Senhores

É aviltante a decadência moral das figuras públicas que estampam manchetes e alimentam os círculos de debate de norte a sul do país. De todas as suas características, as que mais me incomodam são a mediocridade e a total falta de efetividade. São zeros à esquerda em termos de promoção do bem comum. Verdadeiros parasitas, determinados a aplicar de forma voraz a – infame – Lei de Gérson. Perfeitos mediocratas. Criaturas que vivem nas sombras de sua própria insignificância, quase imperceptivelmente, até o momento em que surge a oportunidade de "dar o bote".

Entretanto, é necessário reconhecer que a falta de ideais, a omissão e a promoção da auto-imagem de "coitados" – no mais das vezes carentes de atitudes como indivíduos e como grupo social – acaba fazendo da sociedade o terreno fértil para a disseminação dessas personulidades. Quando nossa escala de valores morais é posta de lado, a mediocracia se instala e toma ares incontrastáveis de sistema. O conceito de Pátria deixa de existir. Os ideais parecem ridículos. Ao invés de haver foco no debate de problemas e busca de soluções, discute-se sobre pessoas. Quantidade passa a valer mais que qualidade. Surgem "partidos" que reúnem sob suas bandeiras indivíduos dispostos a obter poder e vantagens em detrimento do bem-estar coletivo. É a proliferação da praga.

Quando nós, Nação, encarnamos a apatia, damos condições à consolidação desses que, por sua vez, são bonzinhos, sorridentes e populares – Oscar Wilde dizia que só são populares aqueles que são medíocres, no sentido de que todas as nossas ações nos possibilitam adquirir um inimigo.

Analogamente à Democracia, mediocracia deve significar "governo dos medíocres, pelos medíocres e para os medíocres". Mas é mais que isso. Trata-se de uma forma truncada de governar, sem continuidade histórica e onde a crise é um fantasma perene.

Para combater a obscuridade que se cria, são necessárias a consciência e a ação. A adoção e a prática de ideais. O exercício da opinião. A reavaliação de méritos. A busca da superação individual pela sinergia.

O caminho é árduo, mas não impossível.

A ordinariedade que me perturba

Talvez por causa da autoreferência inerente ao ser humano, nunca entendi como pessoas se contentam em “ser média”. Não que minhas ambições sejam exacerbadas, mas penso que cada um deve lutar por algum diferencial, alguma extraordinariedade. Principalmente em termos de qualidade do que deseja pra si e do que faz.

Li, em algum lugar, um comentário irônico que dizia, em outras palavras: “Chegamos a duas conclusões: a primeira é que estamos acima da média; e a segunda é que a média não é lá grande coisa”. Ou seja: cuidado com a comparação. O ponto de referência precisa ser interno, e não externo.

Aprendi que a diferença entre “a média” e a superação é definida, normalmente, por um esforço que outros não tentaram. Às vezes o “extraordinário” é definido por cinco minutos a mais de empenho e de persistência. Ser comum é tão somente ser mais um. Não quero pra mim o predicado de “ordinário”. Nem de “medíocre”. Sou consciente acerca das minhas capacidades e incapacidades. Mas mesmo assim quero, a cada dia, melhorar.

Sobre medo e atitude

Uma mensagem contida no filme "Treinador Carter", que sugere reflexão:
Nosso medo mais profundo não é sermos incapazes. É termos poder demais. É nossa luz, não nossa obscuridade, o que mais nos assusta. Ser pequeno não serve ao mundo. Não há nada de sábio em se diminuir para que outras pessoas não se sintam inseguras à nossa volta. Fomos todos feitos para brilhar, assim como as crianças. Não está apenas em alguns, mas em todos nós. E, na medida em que deixamos nossa própria luz brilhar, inconscientemente permitimos que outros façam o mesmo. Já que nos livramos de nosso próprio medo, nossa presença automaticamente libera outros.

quinta-feira, 4 de maio de 2006

Religação ou Comércio?

Gosto de pensar que a sabedoria popular nos oferece valiosos conselhos. Um deles é o que diz: “religião não se discute”. Diferente do que possa parecer, minhas considerações não têm propósito discriminatório. Muito pelo contrário. Pretendo, ao final, concordar com aquele postulado.

Pelo que sei, o termo “religião” deveria significar re-ligação. Digo “deveria” porque não é o que percebo, daqui da província onde vivo. Ao invés de promover o restabelecimento da conexão entre o homem e a divindade (ou, pelo menos, dos homens entre si), o que salta aos olhos é um exercício comercial exacerbado, onde a fé ocupa simultaneamente os papéis de produto final e de ferramenta de venda. Em cada ponto das cidades pipocam “franquias”, sob diferentes bandeiras, que exploram crenças a preços nada módicos e disputam seus clientes com todas as armas que o marketing pode oferecer. Peço desculpas pelo mau trocadilho, mas ao que parece “o céu é o limite”.

O pior de tudo: percebe-se claramente que há uma contenda pela “verdade absoluta” entre as tais "correntes religiosas", o que fomenta a segregação e, portanto, desvirtua a etimologia da palavra. Entendo que a prática da fé constitua fator fundamental ao equilíbrio mental de qualquer ser humano - até quem não crê em uma “força superior” tem sua fé - uma vez que a consciência da finitude sempre nos abalou profundamente. Avalio que a oração - ou a meditação, ou qualquer outro termo que se queira adotar - ofereça um caminho válido para a reorganização do dia-a-dia, a revisão das atitudes e a manutenção da própria sanidade.

As religiões, na exploração da fé ao longo da história, acabaram popularizando princípios básicos de ética e moral, o que constitui uma contrapartida apreciável. Da mesma forma, é inegável o fato de que igreja e poder sempre caminharam juntos. Guerras foram - e ainda são - travadas em nome da fé. No ocidente, houve uma certa separação entre os dois, enquanto há culturas orientais onde ainda se fundem. Mas não há o que justifique vilipendiar o desespero alheio através do comércio.

Diz-se que os valores - éticos, morais e comportamentais - que adotamos e praticamos são diretamente relacionados à nossa experiência de vida. Tive a oportunidade de fazer o - então chamado - primeiro grau em uma escola “de freiras”. Talvez até por ter, desde criança, uma grande dificuldade em aceitar os tais “dogmas”, nunca fui um fiel praticante. Já passei por crises de fé suficientes para perceber que, por mais que se busquem novas respostas, as perguntas continuarão mudando. Aprendi, com isso, que em termos de fé não há como aceitar uma verdade absoluta. Por ser opção de cada um, trata-se de verdade relativa. Ou seja, é questão de gostar e adotar. Desde que promova a religação e respeite o sentido original do termo, não se discute. Ponto.